Um passeio pelos canais da Holanda



O nome oficial do país já indica seu maior desafio natural: nederland (em holandês) significa “países baixos” – a Holanda (*) é uma região de pântanos e alagados, formados pelos estuários dos rios Reno, Mosa e Waal. Os habitantes que escolheram essas planícies como morada tiveram de lutar sem trégua, durante séculos, contra as enchentes (dos rios) e as tempestades (do mar); acredita-se que os primeiros diques foram construídos no século 9 – há 1.200 anos!
Por volta do ano 1250, os feudos locais contavam com a mão de obra, os recursos e a tecnologia para criar uma série de barreiras, que se converteriam em defesas contra o avanço do mar. Se esse empurra-empurra com a natureza não tivesse sido vencido pelo povo holandês, o país teria hoje apenas metade de seu território. Cidades como Amsterdam, Haia ou Delft não existiram, pois estão, na prática, a alguns metros abaixo do nível do mar.
Com uma experiência milenar em engenharia hidráulica, os holandeses se tornaram hábeis construtores de canais. Sabendo aproveitar o ambiente de estuário, eles usaram a própria água como principal via de transporte, levando mercadorias e passageiros a todo recanto ou ilha.
Os canais mais requintados do país estão em Amsterdam. Aliás, o nome da capital também lembra a engenharia, pois vem de uma barragem – dam – no rio Amstel, construída em 1275.

O canal Voorburgwal, no centro de Amsterdam, termina perto da igreja São Nicolau.

O desenho dos canais de Amsterdam é o produto de um planejamento urbano que data do início do século 17, quando a cidade viveu um período de glória e fortuna. Quatro grandes canais concêntricos e semicirculares foram construídos, criando espaço para novas moradias e pequenas indústrias, como a da cerveja. Hoje, existem na Veneza do Norte (como também é chamada a capital holandesa) mais de 100 km de canais, com 1.500 pontes sobre eles. Para melhor conhecer o emaranhado da cidade, escolhi uma manhã para passear a pé entre as ruelas e a tarde para percorrer de barco o labirinto aquático. Por esses canais, Amsterdam é considerada como Patrimônio Mundial pela Unesco.
Mas antes que Amsterdam chegasse a seu apogeu cultural e econômico, a cidade mais importante dos Países Baixos era Utrecht; entre os séculos 7 e 16 era o maior centro da Cristandade holandesa. Assim, varias torres de igrejas ainda dominam a paisagem urbana. Utrecht também hospeda a maior universidade do país, estabelecida em 1636. Haja tradição!
Utrecht não está abaixo do nível do mar, mas também possui belos canais. O mais charmoso é o que circunda o centro da cidade histórica. Ao anoitecer, um trecho do canal Oudegraft (Canal Antigo) transforma-se no centro gastronômico. Esse canal sempre possuiu, desde 1275, um espaço adicional, ao nível da água, que servia como calçada, dando acesso a pequenos armazéns. Hoje esses espaços se transformaram em pequenos restaurantes, os quais colocam um par de mesas à beira d’água para acolher seus clientes em um ambiente romântico.
O Canal Antigo em Utrecht é o lugar predileto para jantares romântico à beira d’água.
Mais canais? Delft é uma cidade que tem 800 anos de idade, também entrecortada de canais. Os menores e mais estreitos acabam dando um charme adicional à localidade. Os mais largos servem como vias de transporte entre o sul da Holanda e o resto do país. Muitas outras cidades holandesas, como Haarlem e Leiden, também se orgulham de seus canais. Mas, por hoje, ficamos por aqui…
Um ambiente colorido e poético rodeia os estreitos canais do centro histórico de Delft.
Os canais espaçosos de Delft são utilizados constantemente por embarcações maiores. Muitas vezes as pontes devem se levantar para dar passagem.
(*) O nome Holanda é comumente usado para designar todo o país, nas não é o nome oficial do reino. A nação chama-se Países Baixos. Holanda é o nome de apenas duas províncias, onde estão situadas as três principais cidades: a capital Amsterdam, a sede do governo Haia e o maior porto europeu Rotterdam.

http://colunas.epoca.globo.com/viajologia/2010/11/04/construir-canais-e-diques-uma-experiencia-milenar-na-holanda/comment-page-1/#comment-11242 


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